O Sertão me ensinando sobre Deus
- nayrallima
- 31 de jan. de 2017
- 5 min de leitura

Maria e Antônio ( arquivo pessoal)
Olá mundo ! É com muita alegria que eu estou escrevendo esse textinho. Janeiro passou tão rápido. Vai entender esse tempo ligeiro de nossos dias... Mas aqui estamos. Vou contar uma experiência que marcou o mês pra mim. Seria interessante se guardássemos em um caderninho, na agenda do celular ou em qualquer outro lugar, uma experiência mensal. Ler algo depois de um tempo, sempre é motivador.
Há umas duas semanas eu estive visitando o povoado em que meus avós moravam, (porque agora eles vieram morar aqui em minha cidade) por questões de saúde e cuidados. É meio difícil você construir toda uma história, se apegar a detalhes do lugar que você cresceu, criou seus filhos, construiu laços, projetou valor simbólico às coisas, e de repente sair pra outro lugar, sem árvores, sem “criação” como diz meu avô, sem galinha, cisterna, sem água da chuva pra beber , sem o céu mais lindo do mundo pra olhar à noite. Por mais que o lugar seja simples, ele é daquela pessoa, ele tem a cara dela, tem o jeitinho em tudo.
Fomos numa sexta-feira pra passar o final de semana, e foi incrível, porque logo quando chegamos, meus avós pareciam duas crianças olhando pra tudo, e se identificando. Aquela sensação de pertencimento - esse lugar me pertence. Eu senti um ar de leveza, de entrega por parte dos dois. Minha avó (Maria) entrou no quarto cantarolando e apoiando-se nas paredes, por conta da artrose, separou umas roupas para lavar. Depois pegou um balde pra retirar água na cisterna, ainda cantarolando. Meu avô (Antônio) olhava da porta da cozinha, para a imensidão do quintal com chão de barro - esse é o momento em que eu queria está com um caderninho escrevendo tudo que ele estava pensando, com seu olhar tão distante, se assim eu pudesse rs. Depois disso ele foi ver as criações voltando para o curral. O sol ainda estava muito quente. Meus avós estavam com um gás danado.
Aqui em minha cidade eles não tem isso, porque o planejamento de uma casa no centro urbano é completamente diferente da zona rural, e pra quem já tem costume na roça, a estrutura urbana priva muito. Apesar disso, eles recebem aqui, cuidados e carinho da nossa família. (Tia Nabinha, Deus te abençoe muito <3). E aos poucos vão se adaptando, se reinventando. Como diz Guimarães Rosa “O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam".
Eu sempre me sinto muito à vontade no povoado. Eu gosto. Eu revivo os momentos quando criança. É um lugar que me trás lembranças boas. Entre elas, catar umbu. Foi isso que eu fui fazer pra lembrar os velhos tempos, catar umbu com meu priminho.
A tarde estava muito quente, eu conseguir um boné com meu pai, e “meti as caras”. Nem preciso dizer que o balde voltou cheio de umbu inchado. E sinceramente? Estavam no ponto!
Quando estávamos voltando, eu comecei a explicar para meu primo que o umbuzeiro é uma das árvores mais resistentes do sertão, porque ela consegue guardar água nas batatas que têm em suas raízes. É tipo uma local de armazenamento, e quando for o tempo de seca, o umbuzeiro permanecerá vivo por conta que guardou água na época de chuva.
Meu primo ficou todo curioso pra saber quem havia ensinado isso pra mim (tenho que confessar que alguns encontros da vida me proporcionaram aprender sobre nosso lindo e resistente semiárido – valeu IRPAA! ). Entre as curiosidades, ele também perguntou sobre o mandacaru, pois tinha um caído no meio do caminho.
- Esse aqui também guarda água? perguntou
- Essa também é uma planta inteligente ! respondi (os espinhos que o mandacaru têm, conseguem absolver água/ orvalho para sua sobrevivência)
- Mas parece que ela está morta. Afirmou ele
Então, agachou-se, e com um pedaço de pau mexeu para ver se comprovaria o que dissera anteriormente. Mas logo, voltou com outra afirmação:
- Têm água, tá viva, tá viva !
Eu confesso que aquela frase mexeu com meu coração durante todo o percurso de volta. Eu estava segurando o balde, e meus olhos ficaram fixos em algo, porque eu precisava encaixar aquela frase em minha vida. Eu precisava encontrar um lugar pra ela, e encontrei.
“ Aquele que crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.” (João 7:38)
Algo me dizia que meu mundo espiritual precisava reafirmar essa frase “Têm água, tá viva”
Em meus conhecimentos bem superficiais sobre a biologia, entendo que qualquer ser vivo necessita da água pra sobreviver. A verdade é que quando experimentamos de Cristo, quando bebemos dessa água que só Ele tem, rios de águas vivas correrá dentro da gente. Precisamos dessa água. A nossa alma é sedenta em tê-la.
Quantas vezes a gente se vê na situação do mandacaru. Sei que é uma comparação não tão próxima, mas tem dias que as coisas não estão legais por dentro. As forças até se esgotam, porque nós somos isso. Pessoas numa constante busca de respostas, de forças, de água. Quando nos encontramos em Cristo, ainda que estejamos caídos, ou melhor, fracos, sem forças, ainda assim existe aquela água que nos impulsionará a levantar. É a válvula de escape, é os 500ML que restou depois de uma longa noite de choro.
Eu não sei se você está conseguindo acompanhar o que estou tentando expressar rs. Mas é porque vejo Deus em tudo, e, acredito muito que todas as aventuras “eventuais” ou não que acontecem em minha vida, tem o toque dEle.
O senhor Jesus é o meu e teu escape. Não estamos distantes do Seu olhar. E uma fonte de águas, não seca assim tão fácil ...
Se tem água
está viva ainda.
O umbuzeiro por exemplo, guarda água no tempo da chuva. Ele se previne dos tempos de estiagem . Nós devemos seguir essa mesma lógica, e lembrar que em tempos difíceis , frutos também crescem. Flores também nascem.
Voltei pra minha cidade pensando nas inúmeras vezes que Jesus caminhou com meus avós no sertão, naquele sol quente mesmo. Que Ele estendeu as mãos, que falou através das coisas simples de lá, e percebi que a “felicidade é realmente questão de ser”, e caminhar com Jesus, e que os olhos de Maria e Antônio se enchem de vida por lá, e faz todo sentido, porque na época de seca, Jesus providenciou água. Na estiagem, as cisternas estavam abastecidas. A fonte de gratidão existirá pra sempre, e o rio da vida não secará jamais.
Com amor,
Nayra Lima
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